abril 12, 2010

passada

O passado é como um bloco. Lembro de ter visto isso num filme, deveria te-lo lido num livro, mas preferi assistir ao filme. De qualquer forma, não acho isso. O passado não é um bloco, é uma daquelas bolas de ferro que colocam amarradas aos pés dos presos, sabem?

Por mais que pese, ainda dá para andar, ainda se consegue colocar um pé na frente do outro. Ir para frente. Ou, tão para frente quanto se consegue quando seu tornozelo está preso a o que parecem toneladas. Nem sempre a bola é grande, nem sempre ela é feita de chumbo. O peso é sempre o triplo para quem está carregando.

E sabe por que pesa tanto? Sabe porque machuca tanto a perna?Porque ainda não foi liberado. Porque ainda tem uma importância tão grande, que ganha materialidade, que ganha um corpo físico (e metafísico). Porque é tão inquestionável, que mata todas as certezas, todas as levezas, todos os caminhos. Ninguém aguenta carregar tal peso por um caminho longo, logo, fica parado.

É, o passado não é um bloco, mas acho que ele bloqueia, prende. E o mais torturante é perceber que, mesmo com as próprias mudanças - intrínsecas a qualquer passagem de tempo - certas ações se repetem, certos pensamentos voltam, certos sentimentos ainda doem. Frustra muito saber que quase tudo foi em vão.

Parece uma grande piada. Quando acredito que estou mais livre, é que me vejo mais presa. Quando acho que progredi muito, é que retrocedi metros. Tudo ao contrário, contra a lógica. Os grilhões pesam cada vez mais, e não só nos tornozelos, passaram para os braços, para os ombros e , lógico, para a cabeça.

Cada vez que olho para o passado, percebo que em alguma parte do caminho deve ter se perdido a chave que libera o meu grilhão. Continuo presa, parada, errada, acuada, magoada, despreparada, embasbacada e mais nada.