agosto 31, 2009

Colours


Equinox (Hans Hoffman, 1958)

Que raios?? Que porra é essa? Como assim chamam isso de arte?? Eu faria melhor, me dá um pincel, umas telas e uma tinta, vai!

Será que faria?

Sei que é o blog 'errado' pra falar sobre isso. Porém, cada vez mais chego a conclusão de que a vida imita a arte. As cores que vemos no mundo são, apenas, a imitação das cores que esses pintores, os 'abstratos', colocam em suas telas.

Mentes pragmáticas e fechadas tendem a desgostar de arte abstrata em primeira instância. Isso porque elas não tem, pintadas, exatamente o que representam. Não tem o desenho, muito menos a sugestão de alguma alegoria.

É uma bobeira procurar representação gráfica em todo e cada quadro feito no mundo. É como tentar procurar explicações para todas as músicas e sentido em situações exdrúxulas.

A mente é condicionada a procurar o código, a achar o que este significa. Escanea-se quadros dessa forma, e, quando se percebe que ele não vai "passar mensagem nenhuma", começam a criar nomes pejorativos "esse borrão de tinta", "desenho de criança".

Como esses caras representam o mundo em que viviam, o nosso mundo? Cores, texturas, materiais, mistura de tons. Afinal, o mundo não seria isso? Será que vale a pena tentar achar o sentido por trás de cada ato, palavra ou desenho? Será que, por uns instantes, não é melhor admirar, apenas admirar?

É o medo que faz com que os 'desentendidos' não gostem. O medo de admirar apenas porque é bonito, apenas porque tem cor.Gostar apenas.

Nada é para sempre. Cada quadro é um retrato de um momento [sublime ou não] que passou e nunca mais voltará. Uma ideia que passou pela cabeça, um sentimento que chegou às mãos, e aos pincéis e às telas.

Nuances. Os sensíveis enxergam nuances ao lidar com qualquer situação, enxergam transições e transformações pequenas. Como o fato do verde quando colocado do lado do vermelho, mostra mais cada uma dessas cores. Ou, como o céu durante o entardecer fica com, pelo menos, 3 tons de vermelho-alaranjado.

É, nem todos sabem observar. Ou melhor, nem todos querem observar. É, realmente, mais fácil viver num mundo de forma e conteúdo que num mundo de formato e preenchimento.

agosto 24, 2009

Sou eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...


[Álvaro de Azevedo]


agosto 21, 2009

Amor Fatis

O mais estranho de se perder uma pessoa não é a saudade imensa que ela deixa. É a lacuna que ela deixa aberta quando parte. É a falsa sensação de liberdade.

Ninguém é substituível, portanto, aquele local ficará vazio provavelmente para sempre. Vazio não, não no vácuo, cheio de lembranças. Lembranças que por um tempo torturam, depois machucam, depois fazem diferença, depois alegram, dpois são estocadas junto às memórias de todos, depois não são mais lembradas.

No começo, as memórias são tão fortes que chegam a ser corpóreas. Dá para tocar, sentir o que a pessoa era para você. E, em alguns momentos, se você se concentrar e fechar os olhos, sentirá um pouco da presença dela ao seu lado.

A saudade é uma via circular, indo de cima abaixo de nossos sentimentos. Passam pela tristeza, pela raiva, pela alegria, pela felicidade, pelo ostracismo para voltarem para a tristeza e raiva e alegria.

E nesse meio tempo somos obrigados a continuar. Continuar vivendo, continuar sentindo, continuar observando.Forçados a perceber que não se pode parar, não se pode forçar. Há vida depois da desistência. O vazio diminuirá pouco a pouco, assim como outras presenças se tornarão mais importantes.

Transição, movimento, transformação. Nessa brincadeira, aprende-se que a única possível fixidez de nossas vidas reside dentro de nós mesmos.

Os vazios, ou pseudo-vazios, sempre existirão. Pessoas vão o tempo inteiro. Importâncias se deslocam a todo momento. Para nós, a única coisa que existirá será ... a nossa vida.

Tudo passa, e nós ficamos. E passamos da vida de outras pessoas.


agosto 11, 2009

W.O.

Chega uma hora em que se desiste.

Desiste de tentar, desiste de não conseguir, desiste de dar com a cara na parede, desiste de limpar o sangue, desiste de correr até os tijolos denovo, desiste. Simplesmente desiste.

É impossível não sentir uma frustração subir, ou descer, ela não tem um caminho muito fixo. É aquele sentimento que vem logo depois de uma derrota. Mas não é uma derrota comum, você quase conseguiu, você quase venceu, mas, no finalzinho, perdeu. Perdeu, não foi pro pódio, ficou só olhando.

O pior ainda, é ver que quem está em primeiro lugar conseguiu naturalmente. Sem nenhum dos seus esforços, sem nenhuma de suas dores, sem sangue, sem raça, sem nenhum do seu entusiasmo - aquele mesmo entusiasmo que era a sua marca registrada, era seu diferencial, que no fim, não ajudou em porra nenhuma. Sem nada. Apenas conseguiu. 'Just Because'

Humilhação.

É nessa hora que você percebe que se iludiu o tempo inteiro. Quis criar para você mesmo uma falsa imagem de vitória, tentou mentalizar, em vão, o ouro. Você nunca esteve em primeiro, na verdade, nunca esteve perto do pelotão principal. Ficou sempre à margem. Sempre em segundo plano. Correndo, correndo, se cansando, respirando, parando para descansar, e correndo denovo, denovo, denovo, algum dia teria que ganhar, era o que pensava.

Foi porque quis assim, alguns falam. Na verdade, é também nesse momento, que percebe que as pessoas não vão passar para te dar uma mão, mesmo se você tenha feito isso por elas. Elas estão ocupadas demais aplaudindo os campeões. E você vai ficar escutando os aplausos ecoarem como barulhos ocos no vazio, cada palma batida, é uma parte de você que se quebra, é uma parte da sua personalidade, é uma parte do seu esforço.

Inveja. Inveja. Inveja.

Tudo, todas as emoções que achou que um dia eram boas te corroem. Como um ácido. Como naqueles desenhos de gráficos das aulas de Química. E essa corrosão dói. Dói na alma. Dói na consciência. Na sua eterna má-consciência.

Talvez você não devesse ganhar, mesmo. Talvez a outra pessoa estivesse mais apta, fosse mais habilidosa, tivesse mais talento. É, talvez esse prêmio não queira dizer nada.

Afinal, você sempre soube que era uma perdedora mesmo.