março 02, 2010

Casamento

Uma criança que se esconde debaixo de uma mesa numa festa de casamento. Aproveita-se de seu pequeno tamanho, fica paradinha, sentada observando as pontas dos sapatos dos convidados em sua volta.

A mesa é redonda, o mundo é redondo, pensa ela, a mesa é seu mundo, e o mundo não se passa de uma mesa em que se colocam coisas em cima. A última parte ela não pensa, porque, afinal, se ela está embaixo da mesa, está no submundo, abaixo daquilo que todos observam.

Mas ela não imagina nada disso. Fica ali, quietinha, olhando por debaixo da seda branca que colocaram para cobrir a mesa redonda. Festas assim são chatas, não foram feitas para crianças, não tocam nenhuma música que ela conhece, muito menos fazem questão de incluí-la naquele local.

Mesmo assim, a criança não chora. Fica agachada entre o topo da mesa e o chão, envolta por seda branca e sapatos. E pelo seu próprio sapatinho branco. Ela apoia as mãos nos joelhos, e apoia a cabeça nas mãos, seu rosto parece desolado. Como o de um adulto cansado.

Quando ela está quase adormecendo nessa posição ingrata, uma pessoa levanta a borda da toalha de mesa. É sua mãe. Estão procurando o seu buquezinho de dama de honra para a noiva atirar às convidadas solteiras.

Em poucos segundos a mãe retira o buquê da criança, e devolve a ponta da toalha de mesa ao lugar em que estivera.

Aí sim, a menina começa a chorar.

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