setembro 05, 2007

Caixa de Pandora

- Você não entende, não é?
Seus olhos brilhavam, não sabia se eram lágrimas ou apenas uma ilusão da luz em seu rosto.Abaixava a cabeça cada vez que ficava calado, e , quando a levantava, parecia ter sua energia renovada.
Entregou-me uma caixa de veludo vermelho escuro, quase bordô. Não compreendia como aquela caixa, que guardava dentro de si um presente de aniversário (ou seria de alguma outra comemoração?), poderia atrapalhar em sua mudança.Por que uma caixa tão pequena iria fazer peso no meio de tantas caixas maiores e muito mais pesadas?
Deixou-a comigo, e , sem olhar para trás, sem dizer nenhuma palavra, seguiu em frente, andando, passo a passo, até desaparecer na imensidão do espaço.
Fiquei encarando a caixa por um bom tempo enquanto escutava o som dos passos.Sentia que , talvez, essa seria a última comunicação dele comigo.O som finalmente parou, mas a inquietação permaneceu.
O que aquela caixa tinha de mais? O que aquele presente tinha de mais? Qual era o problema deles? Analisei durante também muito tempo- se bem que o tempo aqui é meramente figurativo, nunca soube muito bem quanto tempo fiquei com ele, ou por quanto tempo o amei, sei que foi bastante, foi o bastante- procurei algo de errado nas juntas da caixa, senti para ver se me dava alergia,cherei e nada de espirros, abri, o presente estava lá , intacto.
Lembrei de quando o comprei, lembrei de como o dei; lembrei das palavras e das promessas trocadas. Este pequeno presente foi testemunha de sentimentos , de abraços, de beijos, de brigas.Aquela caixa não era apenas uma caixa, não era apenas um objeto vendido em uma loja, muito menos era aquele presente apenas um presentinho.Eram, os dois, o meu relacionamento.
De repente, não quis ter mais aquilo em minhas mãos. Não queria mais sentir o veludo, cheirar o perfume ou ver o bordô. Não queria lembrar mais de nada, nem dos momentos bons, e muito menos dos ruins.
Fechei os olhos e percebi que a caixa era um epecilho enorme na mudança dele.Não na mudança física, pois a pequenina caberia no caminhão tranquilamente; mas ela não caberia mais na vida dele. Se ele não se livrasse dela, não poderia progredir; era como se fosse uma âncora, ou uma bigorna - ri com esse pensamento, mesmo com lágrimas nos olhos- ela o prendia a tudo que tivemos.
É, tinha acabado de verdade. O que sobrou de nós dois? A caixa devolvida a qual também não sabia se queria mais.E um brilho estranho nos nossos olhos .
-Eu entendo, entendo perfeitamente.
Coloquei a caixa no bolso, podia suportar o peso dela, não queria era suportar a leveza de mim sem ela.

3 comentários:

Iana disse...

Delicado, Camila. :}

Fico pensando quantas caixinhas dessas ainda carrego comigo...

Beijocas!

Daniele Melo disse...

mlhoes de caixinhas dessas carrego comigo...milhoes!
e nem sei se naum carrega-las ia me deixar tao leve assim...num sei mesmo!


lindo texto, ESCRITORA! (jornaista?)

Anônimo disse...

Bote fogo nas caixinhas que não servem mais.
Para que permanecer com elas, não?