abril 19, 2014

Uma epifania no meio dos dias

Descobri que estou enfrentando o meu maior medo, e não, não é de rejeição como eu pensava, é o medo de sentir dor. Medo do sofrimento. Medo de me machucar. Não é medo de perder na vida, não é medo do futuro, não é medo de não gostarem de mim. É medo de.. me cortar tão fundo que precise fazer pontos - na pele e no meu coração.

 Entendam, nunca usei gesso, fiz cirurgias e afins, isso não acontecia porque, sei lá, não curtia sair na rua, brincar com coisas perigosas, como os meus primos faziam, ou, sei lá, aprender a andar de bicicleta, coisa que não sei fazer até hoje. Nunca fiz nada disso por puro medo de me machucar fisicamente. E isso porque, vejam bem, fui uma criança que frequentou o hospital um tanto: a bronquite me ganhou isso. Não era só o medo de ir no hospital, era medo de ver o meu sangue, medo de ter que passar por uma recuperação dolorosa.

Quando fui crescendo, meu medo externo passou foi para o mundo interno. Não queria sair com os garotos para não passar o que as minhas amigas passavam. Nenhuma das minhas paixonites de adolescência sequer souberam que eu gostava delas, não quis falar, preferia ficar em silêncio. Escondi-me atrás da minha falta de confiança [e das minhas neuras com relação à aparência] e fiquei numa situação razoavelmente confortável. Nada acontecia na minha vida amorosa, mas, pelo menos, nada me atingia, sabe? Era bem seguro. Invejava e invejo até hoje as minhas amigas que se aventuram, elas sim são corajosas, e não eu porque 'respeitei a mim mesma' e perguntei pro meu agora ex-namorado [ai dói] se ele queria ficar comigo por três vezes antes de ter a resposta negativa e chegar, assim, ao término do namoro.

 Entrei na faculdade, me expus um pouco, e esse blog é uma pequena mostra disso. Do quanto doeu para mim me sentir o alvo. Porque era assim que eu me sentia, e me sinto em muitas situações, o alvo a ser atacado. Mesmo assim, voltei para a concha quando deu: o mundo é mesmo muito hostil para alguém sensível. Sim, eu sou sensível, por mais que não queira aparentar ou ser. Sempre fui mais pro mundo teórico, da razão: lá não podiam me pegar. Faz tanto sentido isso que, bem, eu tenho duas tatuagens. SÓ duas e duas pequenas, não porque acho tatuagem discreta mais bonita. Muito pelo contrário. Mas porque tenho medo da dor, medo da agulha na minha pele. Isso me apavora mais do que qualquer tinta permanente na minha pele.

Então vem um cara por quem eu me atraio, beijo ele por já ter perdido uma pessoa de quem gostei muito pela falta de iniciativa e algo mágico começa a acontecer. Começo a ficar com menos medo. Mentira, mentira, a vontade começa a superar o medo. E vou levando a situação. Acho que ele não faz ideia do quanto eu tive que me superar para poder sair com ele, para poder deixar ele gostar de mim. Eu fui começando a me sentir segura com ele. Segura para poder me abrir, para poder sair da casca e dar a cara a tapa. Dei a cara e, BEM, como vocês podem perceber levei a porra do tapa. Tapa não, soco no caralho da cara. Junto de uma rasteira absurda.

Minha terapeuta falou algo interessante e extremamente verdadeiro: essa é a primeira vez que eu me permito sentir algo tão ruim assim. A primeira vez que eu me deixo montar um QG no fundo do poço. Não faço ideia de como sair dessa. Não faço ideia do caminho. E, pior, temo pelas consequências do término. Temo que não vá querer sair da casca, nem me aventurar mais. Temo que o medo fique maior com a cicatriz. Vou lutar com todas as minhas forças para que não.


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